Ceará
25.04.2025Um grupo de estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) José Victor Fontenelle Filho, em Viçosa do Ceará, participou de um intercâmbio em Boston, no estado norte-americano de Massachusetts, entre os dias 14 e 18 deste mês. A semana de imersão foi resultado do destaque obtido pelos alunos na Olimpíada Brasileira de Tecnologia (OBT) e na Semana EAT – Escola Avançada de Tecnologia, ocorridas no ano de 2023, por realização do Instituto Alpha Lumen, MIT Brasil e Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Os jovens desenvolveram um aplicativo que permite o compartilhamento de ideias para o reaproveitamento do plástico, além de oferecer orientações sobre descarte adequado e outras dicas relacionadas à redução do impacto ambiental ocasionado por esse tipo de resíduo. Os alunos concluíram o Ensino Médio integrado ao curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas em 2024.
O projeto, denominado ReciCiclo, começou a ser desenvolvido ainda em 2022, ano em que o grupo entrou na unidade de ensino para cursar a 1ª série. À época, seis alunos formaram a equipe “Os Guanabaras” e inscreveram-se na OBT, com o objetivo inicial apenas de “ganhar experiência”, conforme relembra o professor José Maria da Soledade, um dos orientadores do trabalho. Ainda assim, mesmo sem projeções ambiciosas a princípio, a ação foi contemplada com medalha de bronze no certame. A OBT ocorre de forma online e consiste em projetar um app, como protótipo, que ajude a resolver problemas socioambientais de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, além de provas de matemática e de programação de computadores.
Conheça a apresentação do projeto
“Sabemos que nos dias de hoje o plástico está presente na vida de todos e não vai deixar de ser fabricado, pelas inúmeras utilidades que tem. Por isso, criamos um app que visa acolher o que iria ser descartado de maneira inadequada, dando nova vida a objetos. Acreditamos que até a mínima atitude de cada um já faz a diferença na vida da população”, explica a estudante Cibele Fontenele, uma das envolvidas no projeto.
O ReciCiclo, de acordo com o estudante Alex Paulo Galeno, busca preservar o meio ambiente e fomentar a criatividade dos usuários.
“Com o engajamento do público, espera-se que artesãos e interessados na reutilização de materiais possam mostrar seus trabalhos e incentivar os demais a colaborarem na causa ambiental, na mesma medida em que criam novos utensílios para seus lares, brinquedos e decorações que, além de encantadoras, preservam o meio em que vivemos”, observa.
Em virtude do bom resultado na Olimpíada, o grupo foi classificado para participar do “Desafio do App”, um outro concurso do qual só participam os times melhor ranqueados na OBT. Com isso, os jovens deveriam desenvolver, em pouco mais de um mês, o aplicativo proposto na competição anterior, utilizando a plataforma MIT App Inventor e outros softwares complementares.
Naquele período, enquanto a equipe desenvolvia o app, foi convidada pelo Instituto Alpha Lumen, um dos realizadores da OBT, para participar da Semana Avançada de Tecnologia – EAT, em São José dos Campos-SP, onde a instituição fica sediada. No evento, que ocorreu de 18 a 21 julho de 2023, o grupo apresentou o app para o público, participou de uma imersão tecnológica e recebeu o resultado do Desafio do App, tendo consagrado-se em primeiro lugar.
Durante a Semana EAT foi realizado, também, o “Desafio Space”, que é a segunda etapa da Olimpíada Internacional de Ciências e Engenharia Aeroespacial. Os Guanabaras participaram de mais esta disputa e garantiram nela mais um primeiro lugar no nível 1. Com o êxito e a projeção alcançada, veio então o convite oficial para visitar o Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT), localizado em Boston-MA, nos EUA. Somadas as premiações, a equipe cearense recebeu um total de R$ 3.500,00, que auxiliaram a custear a obtenção de documentação para viagem internacional.
A tão esperada jornada em solo norte-americano, que veio ocorrer em abril de 2025, incluiu na programação visitas a universidades e instituições culturais, além de palestras e trocas de ideias com profissionais que atuam no desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas do conhecimento, principalmente, nas novas tecnologias. Entre os locais visitados, estão o Observatório Harvard, o Broad Institute Museum, o Google Boston, o MIT Media Lab, o Consulado Brasileiro em Boston, o Museu de Arte de Harvard e o MIT Museum.
“A conquista de medalhas em olimpíadas estudantis levou nossos alunos a uma semana de imersão muito rica, em que puderam desfrutar de palestras e troca de ideias com engenheiros de uma das maiores big techs do planeta, a Google, além de ter a oportunidade de conhecer diversos ambientes do MIT e da Universidade de Harvard, duas das mais conceituadas instituições de ensino e pesquisa do mundo. Uma oportunidade de conversar com professores e alunos brasileiros e de várias outras nacionalidades, além de outras pessoas com quem tiveram contato durante a semana”, explica o professor José Maria.
“Durante quase dois anos foram feitos os preparativos para a realização desse grande sonho, com o apoio da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), que financiou toda a viagem para os Estados Unidos, além da viagem para obtenção do visto no Consulado Americano na cidade de Recife-PE, mostrando que a educação cearense caminha para um nível cada vez mais alto, e que todo o investimento até aqui tem levado nossos alunos a grandes realizações”, ressalta o educador.
O estudante Alex Paulo relembra a trajetória percorrida, desde a concepção da ideia até a vivência internacional. Conforme o jovem, a participação nos eventos competitivos foi marcada por superação coletiva e rendeu ao grupo muitas emoções.
“Vivemos um trabalho em equipe muito complexo e penso que lidar com tudo isso em conjunto tenha sido o principal aprendizado para a equipe. Além dos conhecimentos técnicos que nos levaram ao prêmio, aproveitamos o potencial máximo (técnico e emocional) de cada membro na produção do nosso aplicativo. Como eu muitas vezes falei, não há nada como fazer o básico bem feito. Prometemos algo em nosso protótipo e conseguimos, com muito esforço, entregar no aplicativo. Além do comprometimento da equipe, não posso esquecer de citar, em especial, os professores José Maria e Manoel Justiniano, que em meio a broncas e palavras de conforto, mantiveram nossa equipe em equilíbrio para bem executar o trabalho que nos foi designado”, conta.
Sobre a viagem aos EUA, o estudante avalia que o principal impacto pessoal gerado tenha sido na redefinição da carreira acadêmica. “Ao sair para os Estados Unidos, eu era graduando em Psicologia e em Música. No entanto, durante a viagem, percebi que meu lugar sempre foi a tecnologia, o mundo da TI. Então, estou em busca de reiniciar minha vida acadêmica, com o curso de Ciências da Computação, e seguir com a Licenciatura em Música que já estava fazendo, desde o início deste ano”, projeta.
A colega Cibele Fontenele descreve ter sentido uma “emoção sensacional” ao perceber que todo o esforço foi recompensado. “Não falo apenas pelas medalhas que recebemos, mas pelo que aprendemos na trajetória, no quesito profissional e pessoal. Aprendemos muito a como lidar com problemas em equipe, a ouvir e a respeitar decisões em grupo.Pudemos contar com o apoio de duas mentes brilhantes, que estiveram com a gente nos momentos de angústia, quando a equipe pensava em desistir: os professores Manoel e José Maria. Com eles, mais do que aprendizados técnicos, nós aprendemos a como ser humanos”, enfatiza.
A viagem, de acordo com Cibele, foi marcante antes, durante e depois. “Ter a experiência de conhecer empresas em outro país, agregar novos conhecimentos com pessoas que passaram por situações parecidas com as nossas, é surreal. Nós percebemos que não é algo tão distante quanto parece ser. Viver esses dias conhecendo inovações tecnológicas que só conseguimos ver em filmes, sentir essa realidade de perto, é incrível. Ter vivido tudo isso nessa semana abriu minha mente e meu coração para decisões mais firmes na minha vida. Eu me formei em Desenvolvimento de Sistemas na EEEP José Victor Fontenelle e percebi que só estudei a pontinha de um iceberg. Fui para essa viagem apaixonada pela medicina e voltei mais apaixonada ainda pelo mundo da tecnologia. Quero cursar algo relacionado à área, pois hoje tenho certeza que é uma das minhas grandes paixões”, conclui.
Além de Alex Paulo e Cibele, a equipe também contou com os estudantes Ana Karen Vasconcelos, Cícera Gabriela Rodrigues, Guilherme Oliveira e Moniele Oliveira (esta última oriunda do curso de Hospedagem, tendo participado do projeto durante as primeiras fases, até a realização da Semana EAT). Os professores José Maria da Soledade, Manoel Justiniano de Melo Neto e Elionai Freire foram os responsáveis pela orientação do projeto.
Texto: Bruno Mota
Foto: arquivo pessoal