Rio Grande do Norte
26.11.2025
O Rio Grande do Norte encerrou mais um ciclo do Programa Brasil Alfabetizado (PBA) com uma cerimônia que uniu cultura, memória e transformação social. Realizada na última quarta-feira (19), a certificação “Sabores e Saberes” marcou o encerramento das ações do PBA – Saldos Remanescentes, iniciativa retomada pela Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC).
A cerimônia contou com a presença de 60 pessoas alfabetizadas, representantes das 119 turmas que funcionaram em 47 municípios do Rio Grande do Norte. Elas receberam certificados simbólicos como incentivo para seguir no primeiro segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA) das redes estadual e municipais. Além dos educandos, participaram coordenadores de turmas, alfabetizadores, gestores municipais, equipes da SEEC e da Fundação Getúlio Vargas.
Os resultados alcançados nos dois ciclos ressaltam o impacto da política: 2.084 alfabetizandos no PBA/2024 e 1.244 no PBA – Saldos Remanescentes, totalizando mais de três mil pessoas atendidas.
A secretária adjunta da Educação, Cleonice Kozerski, durante o evento, ressaltou a integração entre educação, cultura e participação social que marcou o ciclo. “Ver cada estudante aqui, trazendo seu território, sua história e seus avanços, mostra que alfabetizar é muito mais do que ensinar a ler e escrever , é fortalecer identidades e abrir caminhos. O RN segue firme no compromisso de ampliar a EJA e garantir que ninguém fique para trás”, afirmou.
Essa relação entre vida, território e conhecimento foi o centro da solenidade “Sabores e Saberes”. Cada município participante apresentou comidas típicas, símbolos locais e registros pedagógicos que evidenciaram avanços em leitura e escrita. A mesa temática ressaltou que aprender é também um ato cultural e social, reafirmando as raízes da educação popular.
Para a subcoordenadora de Educação de Jovens e Adultos, Liz Araújo, o momento simboliza mais do que a conclusão de um ciclo. “O Programa Brasil Alfabetizado representa o compromisso do estado com a dignidade das pessoas. Alfabetizar um jovem ou adulto é romper barreiras históricas. É garantir cidadania. Estamos reconstruindo políticas que não podiam ter sido interrompidas e devolvendo às comunidades o direito de aprender”, destacou Liz.
Para Caroline Almeida, gerente de Projetos da FGV DGPE, o ciclo realizado no RN deixa um legado humano e institucional significativo. “O que vimos ao longo deste ciclo foi muito mais do que números: foi a transformação real de vidas, histórias e possibilidades. Vimos de perto salas cheias de vontade, histórias de superação e pessoas que, depois de tantos anos, finalmente conseguiram escrever o próprio nome. Isso não tem preço”, afirmou.
Política de Alfabetização
A adesão do RN ao PBA remonta a 2003, quando teve início uma parceria contínua com o Ministério da Educação para enfrentar o analfabetismo no estado. Ao longo dos anos, o programa contribuiu para reduzir significativamente o número de pessoas não alfabetizadas. Porém, na segunda metade dos anos 2010, diversas iniciativas federais foram suspensas, deixando o PBA paralisado e com recursos bloqueados.
A retomada ocorreu em 2019, com a Política Estadual de Superação do Analfabetismo (PSA), que permitiu à SEEC reativar o programa a partir dos saldos remanescentes, liberados pela atual gestão federal. Em um movimento inédito, o estado firmou parceria com a FGV, que ofereceu suporte técnico e metodológico às equipes, fortalecendo a qualidade da execução.
As ações foram guiadas por uma abordagem inspirada na pedagogia de Paulo Freire, valorizando os saberes comunitários, a identidade dos territórios e o protagonismo dos estudantes. Ao longo de cerca de cinco meses, alfabetizadores e participantes construíram processos de aprendizagem vinculados ao cotidiano das comunidades, integrando cultura e educação em atividades verdadeiramente transformadoras.
Os resultados são expressivos: forte mobilização das comunidades, integração entre elementos culturais e práticas pedagógicas, além de avanços significativos na leitura e na escrita dos participantes. Os alfabetizadores, protagonistas do processo, também foram homenageados pela dedicação e pelo impacto direto nas trajetórias dos estudantes.
O ciclo encerrado reafirma o papel da Educação de Jovens e Adultos como política pública permanente e essencial para o desenvolvimento social do Estado. Mais do que números, o PBA – Saldos Remanescentes confirmou que a alfabetização continua sendo uma janela de oportunidades e um caminho para fortalecer vínculos, ampliar direitos e transformar vidas no Rio Grande do Norte.